Um estudo do Itaú BBA revela que a conversão de todas as pastagens degradadas com aptidão agrícola no Brasil exigiria um investimento estimado em R$ 482,6 bilhões, caso essas áreas fossem totalmente transformadas em lavouras de soja. O montante equivale ao valor de um Plano Safra completo, destinado a financiar toda a produção agropecuária nacional em um ano, e ilustra o tamanho do desafio para expandir a produção sem recorrer ao desmatamento de áreas nativas.
O cálculo baseia-se em dados da Embrapa, que aponta a existência de 28 milhões de hectares de pastagens com degradação intermediária a severa, mas com potencial para se tornarem produtivos cultivos agrícolas. O estudo considerou a experiência do Programa Reverte, conduzido pelo banco em parceria com a Syngenta e a The Nature Conservancy (TNC), voltado à conversão sustentável de pastagens no Cerrado.
O custo médio da conversão varia conforme o grau de degradação. Para áreas com degradação intermediária, o valor estimado é de R$ 16.904 por hectare. Já para pastos severamente degradados, o custo sobe para R$ 17.784 por hectare, devido à necessidade de maior preparo do solo, como calagem e adubação. Se todos os produtores já possuíssem os equipamentos necessários, como escarificadores, subsoladores e grades, o investimento cairia para R$ 188,7 bilhões.
Apesar do custo elevado, a conversão apresenta viabilidade econômica no longo prazo. A fertilidade do solo tende a se estabilizar apenas após cinco safras, e a taxa interna de retorno (TIR) dos projetos é estimada em 8% no horizonte de dez anos. Estratégias de conversão variam conforme o perfil do produtor. Enquanto alguns optam por converter a área com antecedência e usar culturas como a braquiária para formação de palhada, outros preferem iniciar a lavoura o quanto antes, mesmo com menor produtividade inicial, para gerar fluxo de caixa.
A valorização da terra é outro aspecto relevante. Se os 28 milhões de hectares fossem convertidos integralmente para lavouras, haveria uma valorização fundiária estimada em R$ 904 bilhões. Em média, terras destinadas à agricultura valem 2,4 vezes mais do que as voltadas à pastagem.
A conversão de pastagens degradadas também teria impacto ambiental significativo. A substituição do uso do solo evitaria a emissão de cerca de 3,5 bilhões de toneladas de carbono, além de preservar vegetação nativa. Em termos produtivos, o ganho potencial é de 104,7 milhões de toneladas adicionais de soja, volume equivalente a duas safras do estado do Mato Grosso. Para o milho, cultivado na safrinha, o acréscimo seria de 52,8 milhões de toneladas.
Embora o estudo tenha considerado a conversão total para lavouras de grãos, há espaço para diversificação produtiva. A TNC aponta vantagens na implantação de sistemas integrados, pecuária intensiva, restauração florestal e cultivos alternativos, que contribuem para a infiltração de água no solo e a resiliência às mudanças climáticas. Para isso, instrumentos financeiros mais flexíveis são considerados fundamentais.
Atualmente, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a taxa de conversão de pastagens para agricultura gira em torno de 1,5 milhão de hectares por ano. Sem novos incentivos, esse ritmo levaria 18 anos para converter todas as áreas com potencial. Para acelerar esse processo, o governo federal trabalha na estruturação do programa Caminho Verde Brasil, voltado ao financiamento da conversão sustentável.
Entre os principais entraves, está o elevado custo financeiro, agravado pela alta da taxa Selic. O governo espera que o leilão do Ecoinvest, que visa apoiar o Caminho Verde, resulte em taxas de juros de um dígito. Outro desafio é garantir o monitoramento constante das áreas convertidas, para evitar a degradação futura, além da necessidade de assistência técnica, especialmente a pecuaristas que pretendem migrar para a agricultura, mas não possuem familiaridade com esse tipo de manejo.